sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Em torno do QREN

Em torno do QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional, têm surgido algumas críticas face à elevada selectividade na elegibilidade das candidaturas. Contudo temos que conhecer toda lógica evolutiva subjacente aos quadros comunitários de apoio anteriores para compreendermos o actual quadro. Efectivamente, Portugal, desde 1988 que tem vindo a receber apoios financeiros ao investimento realizado pelas empresas, na altura em que a União Europeia ainda se designava de CEE – Comunidade Económica Europeia. Um dos objectivos destes instrumentos financeiros, cuja origem estava suportada em fundos estruturais e de coesão e não em fundos conjunturais, visava harmonizar as economias dos diferentes países aderentes, subsidiando aqueles menos desenvolvidos. Houve assim um tempo para harmonização das políticas empresariais, com base em modelos de competitividade considerados críticos para o desempenho e sucesso das empresas. O tempo em que as prioridades nos instrumentos financeiros de apoio ao investimento eram dadas a projectos de investimento visando essencialmente a modernização ou o aumento da capacidade de produção já acabou. Houve também um período em que foram dadas prioridades aos factores dinâmicos de competitividade, durante o qual assumiram particular ênfase a certificação da qualidade, a criação de marcas, o design, etc, até que chegamos ao presente quadro. Primeiramente, convém referir que este quadro, o QREN, não fazia parte dos objectivos estratégicos da UE, mas o mesmo terá sido atribuído porque basicamente não tínhamos ainda alcançado o nível de desenvolvimento equiparável aos restantes países da Europa. Mas se o modelo de competitividade utilizado nos anteriores Quadros Comunitários de Apoio não foi eficaz no alcance dos objectivos, seria de se esperar que este último quadro tivesse de ser "negociado" com base numa estratégia e em objectivos diferentes do passado, pois claramente os modelos do passado, por terem o peso da antiguidade, estavam simplesmente desactualizados e ultrapassados pela actual evolução duma economia cada vez mais global. E é aqui que reside a grande diferença entre o passado, o presente e o futuro. Sabemos o quanto é difícil um processo de mudança, em boa medida pela incerteza e risco que lhe estão subjacentes. Sentimo-nos melhores num ambiente mais familiar e procuramos traduzir as experiências de sucesso do passado para o presente, como se tivéssemos descoberto a fórmula do sucesso. Mas infelizmente as dinâmicas e os ciclos de mudança são cada vez mais curtos. Entretanto a economia, que adquiriu escala mundial, mudou significativamente, bem como a forma de fazer negócios. Logo o modelo de competitividade com base no elevado grau de modernidade tecnológica do aparelho produtivo já não era garantia de sucesso, pois existia sempre um lugar no mundo em que, com o devido capital, também se podia comprar a mesma tecnologia e se conseguia produzir com custos mais baixos. Então onde residiu a aposta estratégica para a economia empresarial nacional e a base negocial para mais um quadro comunitário de apoio? Basicamente assentou em três conceitos: Investigação e Desenvolvimento Tecnológico, Inovação e Internacionalização, com uma abordagem especial para as PME´s, subvencionando os investimentos nos factores dinâmicos de competitividade, tais como design de produto, a economia digital, o marketing, … Papel importante teve a Agenda de Lisboa e o Plano Tecnológico. Agora as empresas têm que interiorizar e disseminar na sua cultura organizacional estes conceitos e isto demora o seu tempo, pois implica mudança. Fazer hoje uma candidatura ao QREN exige experiência, know-how e conhecimentos técnicos apurados, com uma forte vertente crítica e analítica, pois não basta ter um projecto empresarial para garantir a aprovação e não basta ter estatuto ou título, pois essas variáveis simplesmente não entram no cálculo do mérito das candidaturas.
Lúcio Trigo, Director - Geral da HM Consultores

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